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Bolseiro pós-doc do CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos



O Norte é uma região de ciência?

A Região Norte tem nos seus antepassados e no nosso país uma das maiores lições de criação, isto é, a audácia de com muito pouco e em muito pouco tempo terem criado conhecimento e riqueza. Aquilo também foi ciência, só que esse modelo caducou por nunca termos perguntado: "Amanhã isto continuará a funcionar caso as fronteiras se abram, se pague mais impostos ou outros venham para cá?”. Se considerarmos ciência essa ginástica de ideias que foi feita em cada micro empresa nortenha, o Norte foi uma região de ciência.
Hoje, sem perder esse grande ensinamento que nos foi deixado, e assumindo que a região Norte e os seus setores estão mais que ligados ao que de melhor a ciência tem dado, a questão relevante é definir a estratégia de criação de conhecimento na região. Quatro questões fundamentais: Onde podemos criar conhecimento? Temos recursos para apostar em todas as frentes? Especializamo-nos ou dispersamos? Sozinhos ou em conjunto? As perguntas resumem-se numa resposta. Não temos dinheiro para todos, então o financiamento deve ser garantido aos mais bem preparados e com melhores resultados, reduzindo a inércia através de um seleção natural, que obriga a uma reorganização de parcerias e estratégias com vista a integrar redes de conhecimento internacionais nos campos de conhecimento que a-priori definimos de interesse para o Norte. O resultado será um tecido forte e resistente num contexto global.
Se pudesse, organizaria a ciência do Norte em grandes polos onde as empresas sabem o que encontrar sem se perderem nos corredores labirínticos das universidades, com uma estrutura muito mais profissionalizada. Hoje o limite do Norte ainda está na estrutura pouco profissionalizada de quem está a gerar ou a meter à disposição conhecimento. É necessário mentalizar quem está nos nossos laboratórios, start-up's e incubadoras de empresas que não estamos sozinhos, que temos de nos ligar aos nossos colegas europeus e extra-europeus à procura de mais valias e oportunidades.

Como é que se demonstra que a ciência é útil para a sociedade?
A sociedade que temos hoje (comportamentos, hábitos e tendências) não existia sem o conhecimento criado pela ciência. O exemplo mais banal é o facto de milhões de pessoas serem guiados por um GPS diariamente para chegar ao seu emprego, de seguida procuram um restaurante comparando preços sem terem que se deslocar a nenhum deles, posteriormente vamos ao supermercado e temos muitas alternativas para o produto, de agricultura convencional ou biológica. Ao fim do dia damos a papa ao nosso bebé e colocamos uma fralda que não lhe provoca irritações, dormindo ele melhor e nós também. O fim de semana está à porta e temos vontade de paz, então damos um salto ao Alto Minho e tocamos em paisagens que alguém cuida de forma a garantirem os alimentos, mas também as sensações que procuramos.
Conclusão, as nossas rotinas diárias estão muito ligadas à evolução do conhecimento e da ciência. Aquilo que tem faltado é a divulgação por parte do cientista e o reconhecimento devido da sociedade à ciência. O primeiro, talvez porque nós investigadores achamos erroneamente que o nosso trabalho começa e termina no laboratório, não guardando algum do nosso tempo para
comunicarmos em linguagem compreensível. O segundo, porque a noticia é sempre focada no efeito ou resultado e apenas três segundos são dedicados à palavra "cientista”.



O que o motiva enquanto bolseiro de investigação?
Passei os últimos 10 anos da minha vida fora de Portugal (Itália, Suíça, EUA, Austrália) e num continuo bombardeamento de conhecimento, desafios, pressões e responsabilidades e, em alguns dias, até rodeado de ódios sobre o que estava a fazer. Mas quando me colocava num canto do quarto, olhando esses ódios, percebia que não eram ódios, mas sim o desafio que naquele dia não tinha sido capaz de ultrapassar.
Pois, esses ódios são a minha inspiração diária. Hoje, em Portugal, com o apoio do ON.2 o maior "ódio” é aquele de quantificar serviços de ecossistema, ou seja os benefícios que as pessoas obtêm das suas paisagens e respectivos ecossistemas. Essa quantificação é essencial, mas também muito complexa, seja porque necessitamos de um sistema continuo no tempo, que não existe, seja porque formas convencionais de quantificação têm que ser substituídas ou complementadas com medições à escala de região, país ou continente. Para tal, no Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, estamos focados em modelizar tal fluxo de serviços de ecossistema para a sociedade, testando informação proveniente de alguns satélites que diariamente observam os fluxos de matéria e energia no nosso planeta. Um esforço que está a ser feito também a nível europeu.
Dou-lhe um exemplo, o nosso rio Douro. Este coloca ao dispor uma quantidade de água, usada para beber, navegar, regar, gerar energia, entre tantos outros serviços. Mas isso acontece assim, porque ao longo do seu percurso e área de influência determinadas tradições de uso da terra, determinados habitats e padrões de biodiversidade definem e contribuem para essas características desde há séculos. Hoje com o abandono das zonas rurais, tais dinâmicas são claramente afectadas. Áreas abandonadas têm tendência de arder ciclicamente, criando zonas degradadas que aquando das primeiras chuvas colocam resíduos em circulação no rio afectando a qualidade da água à disposição das pessoas, custando milhares de euros tornar de novo a água potável. A questão surge, não é mais eficaz usar o dinheiro investido a purificar água a priori, pagando aos habitantes a montante do Porto um contributo para a manutenção da suas terras, criando postos de trabalho e evitando a "morte” desses lugares? Este exemplo especifica de forma simples a visão "serviços de ecossistema”.

Que importância atribui à utilização de fundos comunitários no financiamento de bolsas de investigação?
Uso o meu exemplo para lhe responder. O financiamento do ON.2 contribui para criar o conhecimento de nível pós-doutoral num grupo de investigação onde o nível de qualificação estava no patamar mestrado. O meu dever agora é criar valor adicional para o meu grupo e para o CIBIO, implementando as mais avançadas lógicas organizacionais e de investigação de que estou ao corrente através da minha experiência exterior.
Conclusão, os fundos comunitários são fundamentais e positivos se eu e todos os meus colegas abrangidos por este tipo de iniciativa percebermos que está em jogo dinheiro de pessoas que diariamente contribuem com os seus impostos para o meu salário e que esperam de nós um contributo para o seu bem estar.

António Monteiro, Bolseiro pós-doc do CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos


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